quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Feminismo

O ultrage
não está
nos meus trajes...
mesmo assim
trago
comigo
o medo
e pago
a soma
do que não somos:
uníssonas!





Prazeres

 Aos poucos
Meu texto
Ateu
Traça pontes
e eu atravesso
agarrada nos versos
os diversos rios
de medo
reforçando
a fé
na festa
que a vida é.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Alguém para chamar de meu, mesmo que seja eu...até o recheio

Num dia que não deveria ter sido, mas que eu estaria mentindo se dissesse que não foi, um dia qualquer, há aproximadamente doze anos atrás, entendi que precisava de alguém para chamar de meu, mesmo que fosse eu. E entendi que não seria ele.
Foi minha quarta tentativa frustrada, embora eu nem soubesse o que estava tentando.
Outras ainda vieram, depois que entendi. Igualmente frustradas.
Tentei namorados, maridos e até filhos.
Percebi que os parceiros eram deles mesmos e os filhos, do mundo. Percebo que até agora havia conhecido relações de posse unilaterais: eu era/sou deles. Em cada relação deixei de ser minha e não ganhei ninguém.
Quatro filhos até entender que a maternidade é para quem está pronta para se doar...mas eu nem era minha!
Dois casamentos para entender que...por não saber o que procurava, acabei nos endereços errados.
E como é fácil se perder...
As ilusões são sempre doces e coloridas como a casinha da bruxa de João e Maria. E, igualmente, guardam armadilhas perigosas. Porém, quando não há mais nada ao redor e o coração está faminto, por que culpar-se tanto?
Precisei de todas as tentativas e erros para chegar aqui, vislumbrando os 40, e me sentir "quase adulta".
Olho para trás e vejo coisas que nunca estiveram lá, ou melhor, sempre estiveram, mas minha compreensão não alcançava. Centenas de Eus, antes invisíveis, agora sorriem, choram, acenam, gritam, feito peças de um quebra-cabeças que já julgava impossível de completar. Jurei que faltavam peças na caixa. Que tinha sido fabricado com defeito. Sempre acreditei que o quebra-cabeças da minha vida tinha sido mal feito. Mas não.
Tais peças estavam ali o tempo todo, mas só poderiam ser vistas quando eu estivesse prontas. Acho que estou. Ou quase.
Ainda há momentos em que te olho dormir e me procuro em ti. Assisto repetidas vezes aqueles vídeos bobos que gravo enquanto tocas violão, na nossa sala, e posso jurar que me vejo nos teus olhos.
Claro, o sistema ainda falha. Há também aqueles momentos em que duvido de tudo. Quando me perco completamente na tua voz exaltada, carregada de palavras ásperas...quando tu também te perdes. Quando nos perdemos um do outro e o outro do um.
Lembro que quando nos aproximamos, num processo meio lento para o meu ritmo, te achei meio preto-e-branco, meio "pouco quente"...de um equilíbrio quase alarmante.
Engraçado, hoje percebo que, ao nos, encontrarmos, primeiro eu nos perdi. Só com o passar do tempo eu fui nos sentindo, bem lentamente, de um jeito meio etéreo.
Fui sentindo um cheiro de um "nós", cada vez que estavas por perto, e esse cheiro foi trazendo uma fumaça(e nada de rir da referência aqui, viu? ;) ) até que eu pudesse vislumbrar os primeiros laços, numa imagem que ainda não consegui pegar.
Esta fase foi um tanto perturbadora, confesso. Mas eu resisti. Resisti porque havia, contigo na minha vida, a companhia de um Eu, de um Tu e a promessa de um Nós. Tu não me tomavas de mim, ainda que também não te entregasses...
E o tempo foi polindo as arestas que impediam os encaixes. E fui comprovando a hipótese já levantada de que amar não é apenas cuidar mas, perseverar quando dá vontade de fugir.
Contigo pude entender que o que eu fazia era procurar amores com cobertura de chocolate, e me desesperava sempre que a cobertura acabava e eu atingia a massa. Aí era o fim - Hora de procurar outra cobertura.
Quando ficamos juntos, me ofereceste um amor com cobertura de merengue. E eu nem gosto de merengue. Até agora não sei explicar por que aceitei o prato...
Mas tu soubeste me ajudar a continuar garfada após garfada através da massa, que eu sempre achei muito sem graça, só para me mostrar que o que vale mesmo é o recheio.
Obrigada.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Preciso te odiar

Olha, não é nada pessoal. Bom, pensando bem, é totalmente pessoal. É porque és tu. E porque fomos nós e tu me mostraste que aquilo com que sonhei existe. E é lindo.  E nos sacia. Mas também envenena. Alimenta. Mas intoxica.É delicioso. Mas nos consumiria se continuássemos consumindo.

Teu amor foi minha primeira experiência com drogas. Não, os psicotrópicos que tomei antes não contam. Falo do consumo de drogas em busca de prazer. E como queremos mais e mais mesmo sabendo que nos destruiria.

É, talvez eu  precise te odiar. Precise guardar definitivamente todos os teus textos, bilhetes, o caderninho preto, a jarra de plástico transparente com alça quebrada e todas as outras preciosidades numa gaveta bem funda. Ou sem fundo, que os leve de volta ao lugar mágico a que pertencem.

Preciso mesmo parar devassar teu blog desesperadamente sedenta de tuas palavras, que falam a língua que minha alma entende.
(Confesso que sempre leio cada um com muito medo de que não sejam mais meus, com um receio absolutamente justificado de não ser mais a destinatária das tuas palavras. Um dia, que pode ser amanhã, acontecerá. E é logico. E justo. )

Sim, eu tenho vergonha do meu egoísmo. Mas convivo bem com ele. Talvez eu não seja uma boa pessoa. Na verdade ando me contentando em ser apenas uma pessoa.


E demasiado humana.

Olha, pensando bem, acho que de nada adiantaria te odiar, uma vez que o ódio não é senão a outra face do amor.

Pensando bem, talvez não haja mal nenhum em te amar para sempre, mesmo que mude...que mude o ano, a cor do meu cabelo, que mudes de país, que eu mude de estado civil.

O nosso amor bipolar, surrealista, de poesia concreta, jamais teria cabido num contrato de união estável.

Mas é porque o meu mundo se estabilizou, que posso seguir amando.

É porque descobri um amor concreto, sem poesia mas real, que estou aqui escrevendo.

Daqui em diante, o livro está em branco. E a historia é outra.
Eu não encontro eco em ti
e ando vazia
vadiando por palavras escuras,
chorando lágrimas ocas.

Aprendi que a dor
é melhor
que a dormência.

Desaprendi
minha essência.

Eu sou fera
que se alimenta
de palavras cheias
mas as tuas...
são sempre meias:

Meias verdades
Meias mentiras
Meias metades

Inteiramente vazias.

Ando me esvaziando
de fome
sem estrar nutrida.

Deste jeito
ainda acabo
vazia
de vida.


terça-feira, 7 de julho de 2015

Sem razão

É porque eu te amo
que o mundo gira
é porque eu te amo
que o dia nasce
Por que as flores
floresceriam
se eu não te amasse?



Sobre muros e pontes


"Amar os outros é a única salvação individual que conheço. Ninguém estará perdido se der amor e, às vezes, receber amor em troca. " (Clarice lispector)

Esta nossa geração "Eu me amo (SQN)" me causa um misto de medo e pena, com seu discurso mal processado de " é preciso me amar primeiro", "eu primeiro", " se não me amo, não posso amar outra pessoa", " tenho que me amar mais do que qualquer outro", construído nas infindáveis horas de terapia ou solidão.
O que parecem ter esquecido, ou nunca aprenderam, é que mesmo o amor próprio é construído com ajuda de outra(s) pessoas.
É no olhar do outro que construo minha autoimagem. Preciso me sentir amada para descobrir que sou digna de amor e, só então aprendo a me amar.
Sim, preciso me amar. Mas preciso de ajuda para isto também. A ideia do "é preciso bastar-se" é simplesmente inviável para nós, seres humanos. Somos intrinsecamente interdependentes.
E o mais triste neste discurso é que ele costuma vestir pessoas solitárias, machucadas, que buscam uma armadura que as proteja justamente daquilo que as curaria. Não sabem e não aprendem a se amar, por que temem apavoradamente amar o outro. Qualquer outro. E, sem amar outro, não aprendem que são dignas de serem amadas.
Com o tempo, vão se amargurando, se tornando egoístas, erguendo muros ao invés de pontes.
Não se doam, por que temem ser explorados. Não se dão ao prazer de cuidar, de se entregar de olhos fechados.
Ok, nem sempre dá certo. às vezes somos explorados. Há relações que dão errado, claro. Mas é preciso começar para saber se vai dar certo. E é preciso começar do jeito certo: se entregando.
Mão dupla. Eu faço a minha parte. Se o outro não fizer a dele, ok, caio fora. Mas tentei. A prendi que sou capaz e que estou pronta para ser amada. Em algum momento, acontecerá. E acontecerá porque aprendi a construir pontes em lugar dos muros.